A NATUREZA É UMA MULHER
- 27 de jun.
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Os 4 conceitos da Produtividade Feminina Sustentável

Por 6000 anos, o destino das mulheres sempre foi o casamento ou o convento. Somente há pouco mais de 100 anos, especialmente após o fim das 2 Grandes Guerras, as mulheres passaram a ocupar com mais força as fábricas, lojas e empresas, afinal, os homens estavam ocupados lutando por mais território.
A presença das mulheres no mundo corporativo está alterando os formatos tradicionais de família, empresa e relacionamentos. A soberania feminina está afetando toda a sociedade capitalista e desestruturando o sistema patriarcal.
Entretanto, as mulheres ainda são colocadas em ambientes de trabalho extremamente masculinos, onde sua presença serve apenas para preencher cota e não transformar a linear forma de pensar.
Mas antes de começar do fim, gosto de voltar alguns milênios e apresentar a forma como essa estrutura organizacional está ruindo devido à inserção da mulher no mercado de trabalho.
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Seis mil anos atrás, não havia conexão entre um ato sexual hoje e uma gravidez daqui a 9 meses, e por isso, a mulher era um ser sagrado: ela, magicamente, tinha a capacidade de gerar filhos. Cheia de mistérios indecifráveis, elas sangravam todas juntas por uma semana e não morriam e seu corpo parecia o corpo da natureza.
Por tudo isso e muito mais, as deusas eram reverenciadas: Ísis no Egito, Freya nos países nórdicos, Inanna na Suméria, Nu Kua na China. Enquanto eles saíam para caçar, as mulheres observavam a natureza como se falassem sua própria língua e foi por meio dessa interação que elas inventaram a agricultura e a medicina. Já não era mais necessário que os homens saíssem para caçar por tanto tempo, pois as primeiras sociedades começaram a prosperar.
A mulher não era vista como objeto, seu corpo não era sexualizado, as crianças eram criadas em conjunto. Até o dia em que o homem descobriu sua participação na criação. Ele possuía a semente, e a mulher era apenas um solo fértil onde a semente brotava. Se sentindo traídos e enganados, passaram a reagir com força, ira e autoritarismo.
O corpo da mulher, assim como da natureza, deixou de ser um milagre e se tornou um território a ser controlado. A deusa foi deposta e o deus masculino tomou forma como gênesis. Para garantir que uma mulher daria somente seus frutos, elas passaram a ser objetos de consumo do homem, e o filho deixou de ser da mãe. Quanto mais mulheres, mais filhos herdeiros de seu sangue elas produziam para colher, plantar, construir e guerrear.
O mesmo foi feito com a natureza: delimitaram um espaço físico sobre os territórios e a sede por mais terra começou a gerar brigas e guerras. A mulher e a terra eram artigos de luxo: quanto mais mulheres e mais territórios, mais domínio e mais poder.
E foi assim que as mulheres e a natureza foram subjugadas. A conversa interna entre elas era ameaçadora, e por isso, retirou-se a lua do calendário e o direito de ouvir o próprio corpo e celebrar o próprio sangue. Como se seus recursos fossem sem fim, ambas foram exploradas, queimadas, forçadas a dar tudo o que tinham.
Hoje, as mulheres podem pedir o divórcio, morar e viajar sozinhas, ter relações sexuais com quem quiser, usar a roupa que acharem apropriada, sair sem dar satisfações, estudar, escolher se querem casar ou ter filhos. Esses acessos não aconteceram do dia para a noite, muito sangue foi derramado, muitas mulheres foram torturadas, estupradas e queimadas ao longo desses milênios.
Com a saída da figura feminina de dentro do lar, as novas dinâmicas familiares, domésticas e trabalhistas estão passando por um profundo processo de transformação e as empresas precisam acompanhar. O pai agora também tem responsabilidades domésticas e paternas. A sociedade está se dando conta de que o trabalho de casa e da família, nunca antes remunerado e sempre depreciado, é uma fonte de tempo e energia que consome os funcionários de qualquer empresa. E que, quanto mais o lar está em paz, melhor isso afeta o desempenho dos colaboradores e colaboradoras.
Existe um cenário que há séculos é exaltado dentro das empresas: o formato linear e masculino de pensar estrategicamente. Desde que elas começaram a ocupar timidamente os cargos de liderança, notou-se mudanças profundas na forma de gerir a dinâmica de trabalho corporativo. Por décadas, tiveram que se adequar ao modo de trabalho linear, padronizado e competitivo dos homens.
Tentando entregar mais do que o esperado para se sentirem aceitas, elas estão exaustas, cheias de burn-outs, remédios e transtornos psicológicos. Devagar, o corpo começa a responder e o trabalho começa a não fazer mais sentido. É assim que as mulheres estão abandonando as empresas para empreender, de forma que possam encontrar mais flexibilidade de tempo (pois precisam dar conta das outras jornadas) e o principal: querem trabalhar com propósito! As empresas precisam entender que o tempo da mulher é diferente do homem e fazer os ajustes necessários.
É em cima desse cenário que eu quero trazer os 4 conceitos da produtividade feminina sustentável. Porque hoje, chamam de improdutiva a mulher que ouve e respeita seu corpo, e de poderosa aquela que é uma máquina que nunca para!
OS 4 CONCEITOS DA PRODUTIVIDADE FEMININA X MASCULINA
Não vou me ater aos conceitos masculinos porque estes nós conhecemos bem: é a realidade do mundo e das empresas. Vou puxar toda a explicação para o formato feminino, porque as mulheres precisam entender o seu lugar e os homens, que aqui chegaram, aprenderem sobre essa nova forma de gestão intuitiva, compreendendo que existe um potencial não utilizado por falta de conhecimento. O conceito feminino não é melhor ou pior que o masculino. Ambos são complementares e quando uma empresa aprende a lidar com essas diferenças, ela atinge níveis de produtividade maiores e resultados surpreendentes!
CICLICIDADE X LINEARIDADE

O primeiro conceito da produtividade está no ser mulher. As mulheres são cíclicas, os homens são lineares. Para eles, é mais fácil se manter estável, acordar todos os dias no mesmo horário e repetir a rotina de forma automática. Eles gostam disso! Mudar, para o ser masculino, é um processo lento: regido pelo Sol, as transformações se dão com calma e de forma orgânica.
As mulheres, regidas pela Lua, mudam de fases constantemente: é a famosa mulher de fases. O corpo é cíclico, e compreender esta informação é acessar um processo de autoconhecimento primordial. De nada adianta fazer terapia e usar mil ferramentas holísticas se uma mulher não sabe sequer quando menstrua.
A desconexão com o corpo e seus ciclos não ajuda nem no trabalho, nem nas relações interpessoais. Quando uma mulher compreende seu ciclo, ela sabe usar o potencial dos seus períodos a seu favor. Na semana em que a energia está baixa, a mulher precisa de mais tempo de sono. Ela está mais reflexiva e introspectiva, é o tempo perfeito para focar nos textos, nos relatórios, fazer análises, criar processos e um plano de ação mais assertivo.
Quando está ovulando, com a energia em alta, é o momento propício para marcar reuniões presenciais, apresentar novos projetos e usar a sua beleza e sensualidade para criar oportunidades.
Por isso, o primeiro passo para se tornar uma mulher mais produtiva, é acessar a sabedoria do corpo, os seus ciclos e o seu tempo natural. Não ter medo ou vergonha de dizer que vai chegar mais tarde ou sair mais cedo quando a cólica apertar ou querer ajudar colegas de outros setores da empresa quando se sentir explodindo, isso é parte da energia feminina e deve ser abraçada como algo belo e natural.
Reconhecer o próprio nível de energia de acordo com os ciclos pode ajudar a mulher a acessar esse potencial que não se vê por desconexão do próprio corpo.
SAZONALIDADE X REGULARIDADE

A mulher não consegue separar o profissional do pessoal. Se em casa as coisas estiverem difíceis, o trabalho será afetado indiretamente. Para os homens, uma coisa não interfere na outra. Muitos podem estar vivendo a melhor performance no trabalho, e a vida conjugal estar por um fio. Essa capacidade masculina de focar em um único objetivo e segui-lo até alcançá-lo é admirável. Contudo, não faz parte das características femininas.
Mulheres são multifocais! E isso não as torna menos competentes, mas sim, integrais. O conceito da sazonalidade é sobre o que é de época. No inverno, a natureza dá batatas doces e no verão, melancias.
As demandas femininas são regidas por essa sazonalidade. Dados do IBGE, 2023, dizem que as mulheres gastam cerca de 20 horas a mais por semana do que homens em afazeres domésticos e cuidados com pessoas.
Um dia o filho fica doente; na semana seguinte o cliente está bravo; na outra, a mãe vem te visitar; depois a reforma da casa, e assim ela vai levando sua atenção para a demanda da vez. Não é sobre equilibrar pratos, porque essa comparação já nos sugere a queda. É sobre entender que a natureza nos apresenta o cardápio do dia e não adianta querer melancias no inverno (talvez você as encontre no inverno, mas o preço é alto, e as mulheres tendem a pagar com a própria saúde).
Essa energia de aceitação e transferência de energia para os aspectos sazonais as ajuda a manter a mente funcionando em outros pontos para se inspirar em criar novas soluções. A produtividade feminina pode estar exatamente na presença em se entregar para o que te chama com mais força, para a estação da vez, e não querer controlar as coisas para seguir um caminho regular.
Estar presente ao pegar um atestado de 2 dias para dar muita atenção ao filho, e perceber que, na semana seguinte, a visita da mãe poderá abrir uma janela importante para recuperar o tempo perdido no trabalho, com mais leveza e segurança, é reconhecer a sincronicidade das coisas e o fluir com a sazonalidade, fazendo o que precisa ser feito sem culpa.
QUALIDADE X QUANTIDADE

Por muito tempo as empresas se preocuparam em vender mais. Quanto mais vendas, maior o faturamento, e assim a quantidade é, de fato, um atributo masculino importante, afinal, quem não quer escalar?
Entretanto, a inserção da mulher na liderança traçou uma tangente mais voltada ao relacionamento com o cliente, e nesse processo de análises de qualidade das relações, o pós-venda e a experiência do cliente nasceram. Fazer o cliente sentir e viver uma experiência inesquecível e personalizada é um movimento qualitativo.
As entregas padronizadas são focadas em clientes-números. O processo criativo de entregar customizado, de entender a demanda subliminar, de criar conexão real e genuína é o novo luxo, e, por ser um trabalho mais artesanal, apesar de em menor quantidade, o preço é mais caro.
Uma mulher que trabalha de forma automática, sem processos criativos, onde ela não tem espaço para se expressar, cria uma aura de cansaço e desmotivação. Segundo pesquisas da revista Women in the Workplace Report de 2022, mulheres têm 24% mais chance de desenvolver burn-out que homens em ambientes corporativos tradicionais.
Elas estão buscam por propósito no trabalho, e se não encontram, deixam as empresas para se dedicarem a um trabalho com alma. O número de mulheres empreendendo cresceu 42% entre 2012 e 2024, segundo dados do Sebrae, apesar de ganharem 25% a menos que os homens. E essa transição de carreira para o empreendedorismo está voltada à busca por soluções holísticas com foco em sustentabilidade e conexão com a natureza.
Por isso, quanto mais criativo, diversificado e qualitativo for o trabalho da mulher, focando menos em quantidade, automatização e mecanização, maior a retenção delas no ambiente corporativo. Elas precisam de novos ares, convites para mudar de área, de setor, e assim, ver crescer uma funcionária capaz de ter uma olhar multifocal e criativo sobre os processos. As empresas devem criar um plano de carreira mais versátil para as mulheres, de forma que elas possam exercer todo o seu potencial qualitativo em ambientes multidisciplinares e com estímulos diferentes para renovar os conhecimentos e criarem soluções autênticas.
COOPERAÇÃO E COMPETIÇÃO

Coca-cola ou Pepsi? Brasil ou Argentina? Samsung ou Apple? A preferência por um cria a rejeição do outro. E esse aspecto competitivo não é nada saudável para as mulheres. Por séculos, o sistema patriarcal exaltou a competitividade feminina, sempre na tentativa de desconexão com a sua natureza, que é cooperativa.
Quando elas convivem muito tempo juntas, passam a menstruar juntas. Essa conexão feminina é cheia de mistérios e inexplicável para a mente masculina. Quando uma mulher ajuda outra, chamamos de Sororidade, que vem do latim sóror, significa "irmã", sendo o oposto complementar de Fraternidade - frater, "irmão".
Sororidade é a união, apoio e empatia entre mulheres, baseada no reconhecimento das suas experiências comuns — especialmente em um mundo estruturado pela competição. Não é apenas “amizade entre mulheres”, é uma atitude ética, política e afetiva de reconhecer que quando uma mulher avança, todas avançam.
O clima competitivo sempre foi incitado entre empresas, mas isso gera competições internas entre pessoas que deveriam, teoricamente, estar cooperando. A competição é uma característica masculina desde a infância! É saudável competir, entretanto, é dentro desse ambiente que as mulheres são inseridas no mercado de trabalho. No foco de entregar mais do que esperado para serem aceitas como competentes, o trabalho perde o sentido e tudo fica insustentável.
Dois times de vôlei competem entre sim ao mesmo tempo que cooperam dentro de si. O time tem que estar alinhado e coeso para vencer o jogo. E a inserção das mulheres dentro do mundo corporativo tem trazido mais processos cooperativos, fazendo as empresas crescerem mais rápido.
Uma nova tendência nunca antes vista no mundo empresarial é a cooperação de empresas na criação de novos e autênticos produtos e serviços. Até as que antes competiam, hoje se unem e se reinventam. Antes, havia guerra de mercados e escassez de clientela; agora, projetos colaborativos e sustentáveis.
Uma cultura cooperativa dentro da empresa melhora a saúde mental e retém talentos. Veja casos como a Absolut e Heinz: duas empresas com setores diferentes se uniram e fizeram a releitura do famoso Blood Mary - e venderam muito, aumentando faturamento, base de leads e criando algo completamente novo - tudo por meio das famosas Collabs. Essas alianças permitem que uma empresa consiga penetrar na comunidade e no canal de aquisição da outra, e isso gera um retorno expressivo para as duas! Cooperar com criatividade é um movimento de energia feminina e esta nova tendência surge ao mesmo tempo que as lideranças femininas tomam espaço nas empresas.
Quanto mais uma mulher vive num clima competitivo, mais ela se afasta do seu ambiente natural. Encontrar formas de cooperar entre setores, líderes e empresas pode ser muito positivo para todos, criando um clima amistoso e reinventando a cultura organizacional.
A NATUREZA É UMA MULHER

O que fizeram com as mulheres, fizeram com as florestas. Assim como exploramos a terra até ela não conseguir mais florescer, fazemos com o corpo feminino ao exigir que ele produza sem pausa, sem fase, sem alma. O sistema patriarcal também mutila os homens emocionalmente, que não têm a chance de se expressar e acessar o seu lado mais sensível dentro do universo corporativo.
Uma empresa que decide respeitar o tempo natural e orgânico humano, ajuda a reconstruir o planeta assim como uma mulher, ao se reconectar com sua natureza cíclica e selvagem, se cura e cura todos ao seu redor.
A produtividade feminina não é menos eficaz — é apenas outra forma de operar. Uma forma que respeita o corpo, o tempo, a realidade múltipla e misteriosa das mulheres e o mundo ao nosso redor.
A Ciclicidade nos lembra que produtividade não é constância cega, mas consciência de fases. A Sazonalidade mostra que demandas variam e devem ser respondidas com presença, não com culpa. A Qualidade se impõe como diferencial num mercado saturado de quantidade. E a Cooperação aparece como nova bússola de inovação e saúde mental, substituindo a competição exaustiva.
O peso da palavra Produtividade para as mulheres é tóxico, sinônimo de exaustão. É preciso reinventar o próprio futuro do trabalho, assim como temos reinventado as relações e as dinâmicas domésticas.
Recuperar o ciclo da mulher é também um ato ecológico. E isso não exclui os homens — ao contrário, liberta todos. Quando as lideranças passam a incluir a ciclicidade, a sazonalidade, a qualidade e a cooperação como estratégias legítimas, o ambiente de trabalho muda para todos.
Se você é mulher, comece observando seus ciclos. Se você é gestor, escute mais. Se você é empresária(o), implemente aos poucos um modelo de produtividade mais sustentável. A produtividade feminina não é um detalhe — é a chave da nova economia.
A natureza é uma mulher. E se as empresas querem se manter vivas, inovadoras e saudáveis nos próximos anos, precisam parar de combatê-las e começar a aprender com elas.

(texto integralmente escrito por mim com apoio estratégico de Inteligência Artificial)





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