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A HISTÓRIA DA DEUSA LILITH

  • 23 de out. de 2024
  • 11 min de leitura

Atualizado: 12 de dez. de 2024




A Lilith moderna é independente, livre e sensual.
A Lilith moderna é independente, livre e sensual.

Existe uma deusa  da mitologia cristã que nunca teve a oportunidade de contar sua própria história. Falo da primeira mulher feita pelas mãos de Deus: Lilith (não, não estamos falando de Eva).


Se quando Deus criou o mundo, fez macho e fêmea de todos os seres, por que Ele faria só o macho da sua melhor obra-prima? É claro que tem algo escondido aí nessa história! Algo que todas sabemos e nunca nos questionamos! Algo que não foi Deus ou Jesus que escondeu, mas um sistema religioso que, por séculos, ditou (e ainda dita) os costumes de muitos povos.


E foi assim que, adentrando o inconsciente coletivo de que a mulher é menor porque não foi criada por Deus, mas sim uma ideia do homem, as mulheres tiveram muito de seus direitos podados (e assim segue até hoje).


Desde crianças temos 2 informações em nosso inconsciente: 1) a de que você foi feita da costela de Adão (e por isso, vc é uma co-criada) e 2) tudo é culpa da mulher, pois foi Eva quem comeu do fruto proibido e poderíamos estar vivendo no paraíso até hoje se ela, a mulher, não tivesse sido tão fraca!


A história de Lilith resgata a sua divindade! É ela que te lembra que você é uma deusa, criada do mesmo barro e pó que Adão, e não de sua costela. Lilith representa o lugar da mulher dentro de uma sociedade patriarcal, onde pai, filho e marido reinam. E claro, eles mostram onde é o lugar da mulher e para onde ela vai se desobedecer. 


Então vamos a essa história para você entender o que realmente aconteceu!


Deus fez o homem e a mulher. Ao homem, deu o nome de Adão e à mulher, o nome de Lilith. Reinando sobre a Terra, o casal era feliz, que nem todos os recém-casados. Tinha lá uma história de uma árvore do conhecimento, ou do bem e do mal, cada Bíblia conta de um jeito. Mas isso não era importante para eles, pois estavam se amando!


Durante toda essa lua de mel que durou milhares de anos, Adão idolatrava Lilith! Sempre a elogiava, lhe presenteava, era um cavalheiro e o sexo era uma delícia!


Entretanto, algo mudou depois de um passeio em que o casal avistou a beleza de uma árvore. Lilith ficou muito impactada e apaixonada por aquela beleza. Quis subir na árvore, tocá-la, senti-la, mas Adão não deixou.  


É claro que nessa altura do campeonato, a tal árvore do conhecimento tinha caído no esquecimento. Secretamente, Lilith foi até ela, e ali houve uma forte conexão. Ela subiu em seus galhos e apreciou seus frutos, mas não comeu porque não sabia se eram venenosos. Chegou a conhecer uma serpente que ali vivia e era a guardiã. 


Sentindo sua ausência, Adão sabia onde procurar. Quando a viu ali, sentada no galho a balançar os pés, sentiu uma mistura de raiva, medo e ciúme. Bravo, foram para casa e discutiram. Ele a proibiu de ir lá novamente e Lilith murchou. Adão cresceu. Passou a não elogiar mais, não presentear e achar que o que ela fazia era sua obrigação. Chegou a não deixar que ela ficasse por cima durante o amor porque não queria dar-lhe o direito do gozo. A relação já não era mais a mesma e Lilith não sabia o que fazer. Numa noite qualquer, ele estava tão nervoso por motivo torpe que a amedrontou. 


No dia seguinte, ela decidiu falar com Deus, que há tempos não aparecia. Chamou-o para conversar e contou-lhe suas mazelas. Chorou muito nos braços do Pai e este foi muito carinhoso e atencioso. Lembrou-lhe de seus maiores atributos: a primeira mulher, linda, deslumbrante e perfeita! Ela tinha o poder de intuir e sabia o que era melhor para si. E que, caso essa relação não estivesse boa, que o deixasse.


Deixar Adão? Nunca! Ele precisa voltar a ser como antes! Eu sei que consigo mudá-lo e trazer o meu Adão de volta, ainda mais se eu puder contar com a sua ajuda!    


Todavia as coisas não eram bem assim. Deus explicou à Lilith sobre o livre arbítrio que ele lhes deu e que ele tinha direito de escolher quem ser e o que fazer. Mas a nossa deusa não ia desistir tão fácil assim desse homem maravilhoso. Ela acreditava que poderia mudar um homem com o seu amor.


O tempo passou e ele não mudou. Lilith sorriu para ele, tentou seduzi-lo, fazer coisas juntos, mas tudo deu errado e ele continuava a subjugá-la. E foi aí que o conselho de Deus começou a brotar em sua mente: e se eu o deixasse?


E foi após o trabalho, num dia chuvoso que ele começou a reclamar de tudo e ameaçá-la. Acostumada, ela continuava a fazer suas coisas como se estivesse ouvindo mais uma ladainha. Diante dessa indiferença, ele a violentou.


Lilith saiu de casa em meio à Lua Cheia. Caminhou com as pernas bambas, o sangue escorrendo até a Grande Árvore. Ali, a serpente a curou com seu veneno, e ela renasceu. Em pouco tempo, Lilith estava viva, feliz e curada. Já não lembrava mais de Adão. Havia construído uma pequena casinha e um grande quintal próximo à Árvore. Plantava suas ervas, cantava, escrevia sobre as plantas, sobre alimentação, sobre o sol e a lua. Fazia rituais para a Árvore e nunca chegou a comer de seus frutos, pois eram muito abençoados. Tinha a Árvore como mãe.


Um dia viu uma mulher se aproximar. Quem era? Não deixou que a visse, pois não pretendia divulgar seu novo endereço. Chamou Deus para conversar: Quem é ela?


Deus então contou que após sua partida, Adão ficou muito tempo sozinho. Chorou em seus braços e a procurou por toda a Terra, mas não a encontrou. Foi então que Ele decidiu fazer-lhe uma visita e viu o estado deplorável em que vivia Adão: casa suja e bagunçada, não era um lar, sua vida estava sem sentido e ele estava muito magro. Ouvindo os lamentos de Adão e entendendo que este precisava de uma mulher, decidiu não fazer outra do mesmo barro, mas sim de seu barro. Alguém que fosse sua própria criação. Só assim uma mulher poderia lhe dar obediência e fidelidade, pois ele seria o co-criador de sua vida.


Deus passou o dia todo naquele muquifo e o ajudou a limpar e deixar a casa organizada. Depois de lhe fazer uma sopa, ele dormiu e então começou a cirurgia. Tirou-lhe um pedaço das costelas e fez Eva, parte de sua carne, incompleta em sua inteireza. Deixou-a dormindo ao seu lado e foi-se. Pelo que parece, eles estão bem e felizes. Sabe como é Adão, ele dá suas crises, mas Eva aguenta firme, pois deve a ele a sua existência.


Deus disse também que após essa visita, veio falar com Lilith, mas a viu numa noite fazendo oferendas para a Árvore, que é a Deusa, e achou tudo muito bonito. Ele então reluziu a Árvore como resposta e um presente por ela estar bem e feliz. Sim, Lilith se lembrou dessa noite em especial.


Contente por Adão ter encontrado alguém que o fizesse feliz, e um misto de inveja da nova mulher que tinha os braços de um homem para recostar, Lilith seguiu para sua casa satisfeita e pensativa. 


Lilith fazia seus rituais para a Árvore em noites de Lua Cheia e notou a constante visita de Eva fuçando suas oferendas no dia seguinte. Ela chegou até a levar algumas frutas e ervas consigo. A serpente já havia tentado contato, mas sempre que chegava perto, ela fugia. 



Numa noite escura de Lua Nova, Lilith teve um sonho: sonhou que a Árvore derretia em ouro sob seus pés e a serpente enrolava Eva, abrindo a boca para mordê-la. Ela estava com os olhos esbugalhados para Lilith e sussurrava o nome de Adão. O dia nasceu estranho: corvos negros, urubus planando, passarinhos e peixes mortos pelo caminho. Chegou a encontrar lírios brancos numa planície próxima e foi ligando os sinais: algo estava prestes a acontecer. 


Antes de chegar em casa, sentiu um vulto próximo: era Eva. Estava a caminho da Árvore, certeza! Os presságios se confirmavam e naquele dia algo aconteceria. Lilith notou seu rosto marcado. Adão a havia ferido e ela buscava ajuda. A serpente se mostrava vista e Eva ficou um tempo a mirá-la. Foi chegando perto conforme sentia-se segura. A serpente sabiamente se afastava da árvore conforme Eva se aproximava, dando-lhe espaço para acolhimento. 


Depois de muito chorar, a serpente perguntou-lhe porquê chorava e conversaram. Eva ouviu o barulho e saiu correndo com medo que fosse Adão. Mas era Lilith.


Eva passou a visitar a Árvore com mais frequência para falar com a serpente: as mesmas reclamações de Lilith naquela época. Só que Eva não não se sentia segura para sair da relação, ela aguentava firmemente e acreditava que aquilo era o melhor para si, a única escolha, algo que ela teria que carregar pelo resto de sua vida porque sentia que lhe devia algo. E sim, devia: a vida! Eva nasceu de Adão. 


Quando uma mulher nasce de um relacionamento, ela não sabe quem é e apenas faz o que agrada o seu parceiro. A mulher-Eva nunca sai da relação porque foi forjada no relacionamento. Tudo o que ela é, tudo o que pensa, o que sonha é com e para ele. Ela não se sente segura sem ele e pensa que lá fora a vida pode ser mais difícil. Eva é a deusa que se sacrifica totalmente pelo relacionamento porque não tem identidade própria. Ela é parte dele, foi criada por ele. Eva só conseguiria sair desta relação com a morte. Ela precisaria morrer para renascer livre. 


Lilith percebeu isso muito rápido, pois sua intuição era muito afinada. Sentia compaixão por Eva, mas não podia salvá-la. Ela teria que descobrir suas próprias características e ter muita coragem para viver a sua verdade. Algo que ela não demonstrava ter.


As constantes visitas e conversas com a Serpente fizeram Lilith se afastar um pouco. Quem mais precisava do acolhimento da Árvore neste momento era ela e então decidiu passar uma temporada do outro lado das montanhas.


Eva passou a perguntar mais sobre a Árvore à serpente, que lhe contava sobre os mistérios da vida. A serpente era muito cuidadosa e não lhe ensinava mais do que a capacidade limitada de Eva sobre a compreensão das coisas. Ela era curiosa, uma característica clássica das mulheres, e tinha o desejo de comer do fruto da Árvore, algo que Lilith jamais teve. A relação que Eva tinha com a Árvore era diferente da de Lilith. 


Numa noite de Lua Cheia, séculos depois, Lilith sonhou novamente o mesmo sonho da árvore derretendo em ouro, a serpente com a boca aberta enrolando Eva e seus olhos esbugalhados. Desta vez, entrou Adão, que matava a serpente, transformando o ouro em sangue.


Acordou no meio da noite com o incessante uivo de uma loba. Era o chamado, precisava ver a Árvore. Colheu lírios, velas, ervas e um galão de água para umedecê-la desta temporada de seca. Ao chegar e ritualizar seu sangue (Lilith é o tipo de deusa que menstrua na Lua Cheia), ela conversa com a serpente. Esta anda preocupada e conta que desde que Eva ameaçou comer o fruto, preferiu se afastar e ficou longo tempo longe. Decidiu voltar naquele dia porque a Árvore a chamou. Foi assim que, de surpresa, surge Eva e vê Lilith. 


Em silêncio, ela se aproxima. Sem entender, parece demonstrar ciúmes da serpente a conversar com outra mulher. Percebeu que todos os rituais e oferendas que viu eram daquele mulherão à sua frente. Lilith era mais que bela, era perfeita! Seus cabelos bem cuidados de babosa, suas mãos delicadas com gestos cuidadosos, seu corpo escultural com muitas curvas e os olhos de uma mulher cheia de si e de conhecimento. Além de tudo isso, a energia que emanava dessa deusa era de muito poder. Ela tinha presença, seu cheiro era irresistível e Eva não conseguia parar de olhá-la com muita inveja. Sabia que, para chegar a esse ponto, ela precisava andar muitos quilômetros. 


Lilith não cedeu seu lugar diante da Árvore e não foi embora, o que fez com que Eva ficasse numa situação menor. A serpente se enrolava em Lilith para aumentar o seu poder e ambas criaram uma energia de proteção à Árvore, que estava em sua fase de inverno, seca e sem frutos, com exceção de um único que ficava lá no alto, já murcho e pronto para cair podre. O clima era tenso e Eva parecia desequilibrada.


A presença inesperada de Lilith, o aparecimento da serpente sumida e a Árvore seca, quase morta, além de sua relação com Adão que ia de mal a pior. Tudo isso ao mesmo tempo na pequena cabecinha da pobre Eva, que não compreendia as sutilezas.  


Quando Eva viu o fruto, quis se aparecer. Decidiu subir e pegá-lo. É compreensível, pois sempre que uma mulher se sente diminuída por outra sempre vai tentar provar o seu valor. Lilith e a serpente tentaram impedi-la, mas Eva era bruta e subiu rapidamente. Quando Eva alcançou o fruto e o colheu, chegou Adão: Eva! Ela cai, machuca o queixo num galho  gerando muito sangue de sua boca e torce o tornozelo, impossibilitando-a ficar de pé. 


Adão e Lilith se olharam e uma forte energia pairava no ar. Ambos resgataram algo interno, guardado há milhares de anos, uma nostalgia de um tempo remoto onde eram felizes. Os tempos da criação, onde tudo era novo e ficou óbvio o quanto estavam conectados. Os gritos de Eva ao chão, ensanguentada, irromperam a ira de Adão, que foi para cima de Eva, mas Lilith entrou no meio: Você não vai tocar nela.


Adão não conseguia se sobrepor à Lilith. Afastou-se, porém Eva não conseguia se levantar e começou a chorar com medo do sangue, da ira de seu marido e da sua pequenez diante de Lilith. Enquanto isso, a serpente, muito atenta ao fruto, tentou roubá-lo de Eva para proteger as únicas sementes que restavam. Adão então tentou carregá-la no colo, mas grosseiro e sem dó de suas dores, e Lilith a ajudá-la, Eva viu a serpente rolar o fruto para longe. Ela esticou seu braço, colocou força na perna quebrada e alcançou o fruto, ameaçando comê-lo.


Estáticos e em silêncio, Adão docemente disse que cuidaria dela em casa. A serpente não saía de perto do fruto. Estava em volta de Eva, enrolando-a sutilmente, sem que esta percebesse, sussurrando em seu ouvido palavras de conforto e calma. Aos poucos Eva foi cedendo, sabendo que dali as coisas mudariam. Seu corpo estava machucado, seu coração em pedaços, tinha sido maltratada por Adão a vida inteira, a Árvore estava morta e ela se sentia rejeitada pela serpente que havia sumido, além de ameaçada pela presença de uma mulher mais bela que ela e que já teve um caso com seu marido. 


Eva não queria mais viver. Sentiu-se tão diminuta e sem importância que começou a chorar de desespero. A serpente já abria sua boca, completamente enrolada em Eva e apertando-lhe os punhos para que não fizesse movimentos bruscos. Todavia, Eva estava decidida a acabar com tudo e mordeu o fruto ao mesmo tempo que a serpente lhe mordia a jugular.


Desmaiada, a serpente soltou seu corpo, enrolou o que sobrou do fruto e sumiu. Um céu escuro começou a se formar e detrás da Árvore, surge Deus. O que foi que aconteceu, Adão? Foi a mulher que tu me deste. Sem escrúpulos para assumir sua responsabilidade, ele culpava Deus. Lilith contou o que havia acontecido e Deus pediu que se afastassem para sempre de perto da Árvore, derretendo-a em ouro. Retirou-lhes a imortalidade, para que ambos soubessem o gosto de morrer e voltar para o barro de onde surgiram. 


Lilith seguiu para o Sul e nunca mais foi vista. Adão seguiu para casa.


Deus, chegando perto do corpo de Eva, soprou-lhe em seu ouvido dando-lhe vida novamente. Ao acordar, era como uma nova Eva, inconsciente de tudo. Desta vez, ela não pertencia a Adão. Deus a tornou livre para escolher. Mas Adão a encontrou um dia caminhando pela floresta e eles se casaram. Foi quando Eva estava grávida que decidiram sair dali para o Norte, onde tiveram Caim e Abel.


Eu sei que você precisa de um tempo para ressignificar a Lilith e a Eva dentro de você. A sua história é a história das deusas!


Em breve terei a oportunidade de lançar um livro com mais histórias de deusas, todas com o meu olhar. O chamado de Lilith, para além de todo o seu poder pessoal, é o convite indireto para que você conte a sua própria história, afinal, ela não existe dentro da mitologia cristã, ela nunca pôde contar a sua história!


Lilith representa a mulher independente em todas as áreas de sua vida. Ela consegue viver sozinha e transparece seu poder pessoal. Eva representa a mulher dependente, que precisa da validação do externo para se sentir acolhida. Lilith não é melhor que Eva ou vice-versa. Elas são aspectos nossos e todas temos uma Lilith aprisionada dentro de nós, pois foi isso que o patriarcado fez com a mulher. Quiseram-nos impor ser Eva apenas. Aquela que vive o relacionamento, a família, a casa, aquela que doa e está pronta para cuidar e tornar a vida de qualquer pessoa melhor. 


As mulheres são duais! Lilith lamenta ter tudo, mas estar sozinha. Eva lamenta não se conhecer ou ter um tempo para si. Ambas vivem dentro de nós.   


Se você deseja saber mais sobre as histórias das deusas e como elas podem influenciar a sua vida de diversas formas, te convido a entrar no meu grupo whatsapp da Tenda Vermelha. Por lá eu compartilho mais sobre essa mentoria que vai abrir as cortinas no dia 31/10.  





  

   

 

          



 
 
 

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